O Fator Síria – II
Bem, agora que o ataque multifacetado contra a Síria não surtiu o efeito desejado pelos Estados Unidos, OTAN, Turquia, Israel, Arábia Saudita, Catar e a Irmandade Muçulmana (leia-se al-Qaeda), que era depor o presidente Bashar al-Assad e colocar no seu lugar um fantoche americano, cuja primeira ação seria assinar um humilhante acordo de paz com Israel em troca de trinta moedas, os Estados Unidos, que são o principal mentor dessa desgraceira toda, resolveram colorir sua postura.
Todas as partes envolvidas, exceto o “Exército Livre” e os terroristas da al-Qaeda arregimentados nas favelas do mundo muçulmano, (leiam o meu artigo anterior, “O Fator Síria” neste mesmo blog) concluíram que não poderiam derrubar o Presidente Bashar, em função do apoio popular que ele tem e da coesão do exército sírio em torno dele. Diante disso, levando-se em conta o interesse do principal beneficiário desse jogo, que é Israel, decidiu-se então causar um desgaste e uma sangria no país árabe que faz parte da “Frente da Resistência”, juntamente com Irã, Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza.
À boca pequena, esses inimigos da Síria (exceto os terroristas da al-Qaeda, Arábia Saudita e Catar) já admitem a solução da crise síria através do diálogo. Mas querem um pouco mais de guerra e matança para aniquilar, de vez, com qualquer força de reerguimento sírio no futuro. Portanto, depois dessa destruição física e econômica do país e a cruel matança generalizada perpetrada pelo tal de Exército Livre e seus asseclas da al-Qaeda, Israel poderá ficar tranquilo por mais 30 anos, mesmo que o regime permaneça.
Consequentemente, Israel poderá abocanhar – como já está fazendo – mais e mais do território da Cisjordânia até a expulsão total e final do povo palestino. Os partidos de direita da entidade sionista, que apoiam Nataniahu, já pregam, sem nenhum pejo, uma limpeza étnica total da Cisjordânia e a anexação de todo o território que tem 5.640 m2 (pouco mais que a metade da Lagoa dos Patos). Isso significaria o êxodo de 2.700.000 palestinos, que só Deus sabe para onde iriam. Mais da metade desse minúsculo território já está nas mãos de Israel. É só olhar o mapa atualizado da Margem Ocidental do Jordão.
Como possível Estado Palestino ficaria somente a Faixa de Gaza, que representa somente 2% (sim, dois por cento) do antigo território da Palestina antes de 1948. Mas esses também já estão sendo cooptados – ou seduzidos melhor dizendo – por Hamad Bin Jassem, o arquibilionário primeiro ministro do Catar, inimigo mortal de Bashar al-Assad e amigo atencioso e carinhoso de Tzipi Livni, ex-primeira ministra de Israel. Dizem fontes palestinas que Hamad bin Jassem disse ao Hamas para fazer as pazes com Israel e ele, Hamad, transformaria a Faixa de Gaza no Jardim do Éden. É, não é moleza! São os 30 dinheiros articulando a política no Oriente Médio.
Portanto, o que os inimigos da Síria querem não é introduzir uma democracia ocidental no país, que, diga-se a verdade, não está funcionando em nenhum país árabe que sofreu as revoluções da tal Primavera Árabe. Querem – isto sim – conforme eu já tinha dito no meu artigo anterior, quebrar o eixo da resistência ao projeto sionista-americano. Eliminada a Síria, pensam eles, elimina-se o Hezbollah, o Hamas e isola-se o Irã. Assim, se salva a existência de Israel, e entidade criada pra dividir o mundo árabe e servir de maior base americana no mundo.
Mas vamos fazer um exercício e futurologia. O que será que realmente vai acontecer? Pois eu lhes digo o que vai acontecer, baseado em analistas árabes pró- resistência. O projeto de pacificação elaborado pelo Irã com o aval russo e chinês vai demandar que o Catar, a Turquia e a Arábia Saudita parem imediatamente de fornecer armas e financiar os grupos terroristas que atuam na Síria; que o Presidente Bashar institua eleições livres para o congresso sírio, com observação internacional (Jimmy Carter vai estar lá); em 2014 vai haver eleições para presidente, ou através do congresso ou pelo voto direto. Em qualquer um dos casos, Bashar ganha as eleições com no mínimo 60% dos votos. Assim sendo, Bashar fica!
E como fica a infraestrutura destruída do país? Não se preocupem. O povo sírio é persistente e aguerrido. Haverá de reerguer tudo em menos de 5 anos, com uma substancial ajuda do Irã, é claro.
Mas os povos árabes não devrão dormir tranquilos. O eixo do mal (Estados Unidos, Israel, Arábia Saudita e Catar e mais alguns) já está criando uma nova frente. Já andam atiçando as províncias iraquianas de maioria sunita para se rebelar contra o governo central, que é de maioria xiita, com grandes afinidades com o Irã. Essa massa de manobra já apareceu fazendo demonstrações violentas, gritando o nome do antigo ditador Saddam Hussein e carregando fotos dele. O que não fazem esses homens que lideram o projeto sionista-americano. Aliam-se com o diabo para executar seus planos de divisão do mundo árabe. O feroz inimigo de ontem pode se tornar o útil amigo de hoje. Introduziram a al-Qaeda na Síria para destruir o país e agora se aliam com antigos seguidores de Saddam Hussein para desestruturar o Iraque.
Seria de rir se não fosse de chorar.