HISTÓRIA

Nesta Categoria, vamos postar textos históricos sobre a presença árabe no Brasil. Iniciaremos com os “130 Anos da Imigração árabe no Brasil”

O FATOR SÍRIA

            

     Quantas ditaduras há no Oriente Médio? Quantos governos absolutistas lá existem, onde as liberdades dos cidadãos são mínimas, onde as minorias são esmagadas, onde os direitos das mulheres são praticamente nulos? A Arábia Saudita é um governo desse tipo. Carrega todos os defeitos condenados por qualquer sociedade razoavelmente democrática. Os Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait, Omã e outros, todos monarquias absolutistas, que não admitem oposição, encarceram e torturam seus contrários quando não os matam, reprimem minorias étnicas e pouco se alcançou nesses países no que concerne aos direitos femininos.

    Estão aí, nesse cenário, razões mais do que suficientes para que os Estados Unidos e os países europeus tentem derrubar esses governos, dando suporte midiático aos opositores, alugando um canal de TV forte, com penetração em toda a região, assim como a Al-Jazeera e outras fazem contra a Síria. Além disso, armas pesadas seriam contrabandeadas através dos vizinhos desses países, assim como é feito contra a Síria.

     Mas a questão na Síria não é apoio à democracia. Não é porque se quer implantar um regime democrático na Síria que se fornece armamento de todos os calibres a uma “oposição” composta por mercenários vindos da Líbia, Egito, Líbano, Tunísia e países do Golfo. Ah, sim, é claro que há sírios no meio.

     E quem financia tudo isso? Catar e Arábia Saudita respaldados pelos Estados Unidos, União européia e – não se surpreendam – Israel! E quem executa os atentados com carros bombas contra o povo sírio? Também lhes peço que não se surpreendam. Al Qaeda! Sim, Al-Qaeda que se uniu nessa macabra e diabólica aliança com Estados Unidos, Europeus, árabes reacionários do Golfo e Israel. E é ela, Al- Qaeda,  que tem a função de recrutar os mercenários.

     Se formos comparar a Síria com os países que citei acima, constataremos o seguinte:

A Síria tem um dos menores índices de analfabetismo do Oriente Médio, as mulheres constituem 50% do corpo discente nas suas universidades, há um grande número de mulheres no congresso recém eleito. O pobre sírio não chega ao nível de miserabilidade que há em outros países e come três refeições por dia, o cidadão sírio tem direito à saúde e hospitalização gratuita, o jovem sírio tem a sua educação, desde a escola elementar até a sua formatura na faculdade, por um valor ínfimo que equivale a menos de um ano em uma universidade dos países vizinhos. Em termos de economia a Síria tem 0% de dívida externa e o imposto que o cidadão paga equivale a 5% de seu rendimento. A Síria conseguiu mudar de uma economia socialista para uma economia de mercado aberto sem que isso afetasse o custo de vida de seu cidadão.

     Na Síria – e só na Síria – vivem mais de um milhão de refugiados palestinos com todos os direitos de qualquer cidadão sírio. Durante a invasão Americana ao Iraque a Síria hospedou dois milhões de refugiados iraquianos e não os alojou em tendas, mas em casas de famílias.

     Na Síria – e só na Síria – você entra em um restaurante e encontra o presidente Bashar Al Assad jantando com sua família. Você senta à mesa ao lado e bate um bom papo com ele, como se estivesse conversando com um conhecido amigo.  Poderá haver troca de gentilezas entre você e ele: ele paga a sua janta ou você paga a dele, sem nenhum constrangimento.

     Na Síria – e só na Síria – você ouve alguém se identificar da seguinte forma: “sou xiita, minha esposa é alauíta, minha mãe é sunita, a esposa do meu irmão é cristã, o marido da minha tia é curdo e….”

     Mas então por que exatamente a Síria é o alvo dessas forças perversas? Bem, comecemos com o interesse geopolítico dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Ali, no Oriente Médio, está o petróleo que é o sangue que corre nas veias da economia mundial e ocidental,em particular. Um dos guardiões desse petróleo para o Ocidente chama-se Israel, a maior base militar americana do mundo. Aliás, a existência de Israel deve-se, em grande parte, à existência do petróleo na região. Ou vocês acham, ingenuamente, que se o Oriente Médio não tivesse petróleo Israel estaria ali?

     Para os países do golfo, a Síria é uma ameaça ao status quo deles. Uma eventual vitória da Síria, juntamente com seus aliados, contra Israel, representaria o fim dessas monarquias corruptas e apodrecidas. Portanto, Israel representa a segurança deles também.

     Portanto, o “pecado” da Síria é fazer parte do eixo de resistência à presença do estado sionista, apoiar a resistência palestina em todos os aspectos e dizer um enfático não ao projeto americano-israelense de um “Um Novo Oriente Médio”, como o chamava Condoleezza Rice, secretária de estado do governo Bush, mentora do projeto. Esse “Um Novo Oriente Médio” trazia em seu seio invasões e guerras civis nos países árabes e a subsequente divisão deles em paísecos subservientes à política americana e todos eles reconhecendo Israel.

     O eixo em questão, ou “A Frente de Resistência” como se autointitulam os componentes dessa coligação são os grupos de resistência palestina, o Hezbollah, a Síria e o Irã, que está se tornando uma formidável potência bélica. O Irã é a principal ameaça a Israel e está fornecendo armas ao Hezbollah e à resistência palestina na Faixa de Gaza. Pois aí está o cerne da questão! Como destruir essa corrente?

     Os sionistas de Israel reconhecem que tiveram duas derrotas contra o Hezbollah: em 2000 e 2006. Tanto é que várias cabeças rolaram em Israel após os conflitos de 2006. A ideia de Israel, dos Estados Unidos e das forças conservadoras dos países árabes, era acabar com o Hezbollah ou na pior das hipóteses empurrá-lo para trás do Rio Litani, de forma que não viesse a representar mais perigo para o estado sionista. Depois de trinta e poucos dias de guerra, centenas de soldados israelenses mortos e incontáveis tanques Merkava destruídos, Israel não conseguiu eliminar o Hezbollah, nem sequer empurrá-lo 40 quilômetrospara trás.  Mal entraram algumas centenas de metros dentro do território libanês e tiveram que bater em retirada. Ah, sim praticamente destruíram o Líbano com sua poderosa força aérea. É verdade.

     Mas o resultado disso tudo é que o Hezbollah ainda está lá, mais forte do que antes, com foguetes de longo alcance e de aguda precisão, a ameaçar bombardear Tel Aviv se os israelenses bombardearem Beirute.  Olho por olho, dente por dente!

     O Hamas, em Gaza, também está representando uma força de combate razoável no chão. É claro que os caças e os helicópteros israelenses destruíram a Faixa de Gaza, mas não conseguiram acabar com o Hamas que ainda está lá, mais forte do que antes e com foguetes de médio alcance vindos do Irã.

     Portanto, o negócio é cortar a corrente, extinguindo o regime da Síria. Daí não tem mais armas para o Hezbollah e nem para os palestinos. Cai o Bashar e entra um governo servil, cuja primeira atitude seria assinar um tratado de paz com Israel, cortar relações com o Irã, com o Hezbollah e com a resistência palestina. Isso dito pelo líder desse grupo armado que anda fazendo estragos na Síria, o tal de Burhan Ghaliun, que ninguém sabe de onde surgiu. 

     Síntese de toda a conversa, se a Síria cai, haverá uma grande festa em Washington e outra mais discreta na Europa; danças, bebedeira e fogos de artifício nas ruas de Tel Aviv; uma festança com bebedeira, mulheres de programa russas e tudo o mais em Riad, capital da Arábia Saudita e Doha, capital do Catar. Ah, eles não bebem e nem fornicam por serem muçulmanos? Não sejamos ingênuos!

     Se a Síria cai, os maiores perdedores de todos serão os palestinos. Perderão seu direito ao retorno às suas antigas cidades e aldeias antes de 1948, não terão mais um país independente e viverão em cantões isolados, cercados por forças israelenses por todos os lados. Al-Quds (Jerusalém) como capital? Nem em sonho. Tampouco servirão os palestinos como um exemplo a ser seguido pelos povos desses países conservadores para uma mudança radical, destruindo os tronos de seus monarcas vendilhões.  A “Frente de Resistência” derrotada, significa mais cem anos nos tronos para esses monarcas. Bom para os Estados Unidos e europa Ocidental e bom para Israel.

     Se a Síria cai, podemos pegar a questão palestina e jogá-la no lixo da História!  E o sangue de todos os mártires derramado durante todas essas décadas no enfrentamento à ocupação israelense terá sido em vão. Derramado de graça.

Gilberto Abrão

 

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Quem são os maronitas

Maronitas, quem são eles?

Antes do advento do Islã, os árabes se dividiam em tribos, cada uma com suas crenças, com seus dialetos (a língua árabe pré-islâmica tinha enormes variações de vocabulário e sintaxe), com seus costumes e seus valores.

A maioria das tribos era politeísta, como era o caso da tribo de Qoraish, do Profeta |Mohamed, estabelecida em Meca e arredores. Mas havia tribos que professavam a fé judaica, grande parte delas estabelecidas nas cercanias de Medinah. Mais ao norte da Península Arábica, a maioria das tribos era cristã. Portanto, o cristianismo existe desde o seu nascimento no meio dos árabes.

O cristianismo praticado pelos povos que viviam no Oriente Médio na época em que o Islã conquistava, aos poucos, toda a região, tinha várias correntes. A ortodoxa grega e a católica siríaco-aramaica.

A igreja siríaco-aramaica tinha sua sede em Antioquia, na Síria e seus seguidores se espalhavam pela região litorânea de toda a Síria. No século 5º da era cristã, um monge da igreja siríaca isolou-se nas montanhas em busca do pleno conhecimento de Deus, através de uma vida despojada, simples e contemplativa. Atendia aos pobres, fazia curas e ensinava-lhes as orações. O nome desse monge era Maron.  Seus seguidores foram aumentando e passaram a ser chamados de maronitas.

A Igreja Maronita mantém até hoje a língua siríaco-aramaica em seus rituais. Houve um período em que eles latinizaram seus ritos, seguindo as instruções do Vaticano, mas no final do século 15º decidiram voltar à sua língua de origem.

Após o advento do Islã no século 7º, que conquistou toda a Síria, os maronitas se refugiaram nas montanhas, principalmente no Monte Líbano que, treze séculos mais tarde, seria fracionado e formaria o Líbano de hoje

Durante as cruzadas os maronitas ajudavam os cristãos europeus no seio dos territórios muçulmanos, formando uma verdadeira 5ª coluna. Foram eles que conduziram os soldados europeus da primeira cruzada até Jerusalém.

Os maronitas já participaram de inúmeras guerras em sua existência. Na guerra civil libanesa que se iniciou na década de setenta do século passado, dividiram-se em duas facções. Uma, o Partido da Falange, de direita, de orientação fascista, apoiou Israel. Inclusive, seus soldados participaram junto com os israelenses no célebre massacre de Sabra e Chatila, onde milhares de palestinos foram assassinados. A outra facção, representada pelo ex-general Michel Aoun, em episódio recente da história do Líbano, aliou-se ao Hisbullah.

Os maronitas são considerados árabes? A turma da direita, da Falange, prefere dizer não. Gostam de se proclamarem fenícios. Já a turma do centro e da esquerda, ou seja, os seguidores  do general Michel Aoun e da família Frangieh (muito forte no norte do Líbano), consideram-se  árabes cristãos.

Mas, independente do que pensam os maronitas, o fato é que eles são linguisticamente árabes.

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Os 130 anos da Imigração Árabe no Brasil

 

Árabes, um contínuo “descobrimento” do Brasil

 

* Por Gilberto Abrão

 

Os 130 anos da imigração árabe no Brasil são registros meramente oficiais de uma entrada de grandes levas de árabes a partir de 1880, pois os árabes vieram ao Brasil bem antes do que as crônicas oficiais registram. Datam da época dos grandes descobrimentos – quando Portugal era uma das potências marítimas e as naus lusitanas singravam os mares em busca de novas terras para a coroa –, notas sobre navegadores e cartógrafos árabes acompanhando os grandes conquistadores. A invenção do astrolábio pelos árabes e a subsequente fama deles na navegação fez com que muitos capitães portugueses e espanhóis usassem a perícia árabe. Talvez um dos mais famosos navegadores árabes tenha sido Ahmad ibn Majid, que acompanhou Vasco da Gama em várias de suas viagens, inclusive na célebre incursão à Índia, contornando o Cabo da Boa Esperança. Alguns pesquisadores afirmam que Pedro Álvares Cabral possa ter tido entre os tripulantes um cartógrafo árabe que sobreviveu à queda de Granada, em 1492 – assim como fizeram os navegadores que vieram nas duas primeiras décadas após o descobrimento. Não se sabe, porém, se algum desses árabes do Brasil Colônia permaneceu aqui.

Voltando aos anais oficiais, a imigração das grandes levas começou realmente há aproximadamente 130 anos, tendo início com a fuga de milhares de jovens cristãos da perseguição otomana que dominava com pulso de aço a Grande Síria, hoje Síria, Líbano, Israel e parte da Jordânia. A ideia desses jovens imigrantes – muitos que mal tinham entrado na adolescência – era “fazer a América”. Isso significava trabalhar duro, ganhar muito dinheiro e voltar ao país de origem. Muitos embarcavam nos navios dos portos de Beirute, Haifa, Trípoli e Latáquia, sabendo somente que iam à América. Ou seja, não tinham conhecimento que a América podia ser Estados Unidos, Brasil, Argentina, Chile, México… Muitos desciam em um país, pensando que era outro; desembarcaram até em ilhas do Caribe. A história oral desses primeiros imigrantes registra, com certa dose de humor, que alguns desceram no Brasil pensando ter chegado aos Estados Unidos; outros achavam que era a Argentina.

Um outro aspecto curioso sobre os primeiros imigrantes árabes que vieram ao Brasil Império reside no fato de possuírem documentos nos quais constava a profissão de agricultor. O que era verdade! A maioria tinha saído de aldeias onde trabalhavam em plantações variadas e no pastoreio. Ao chegar ao Brasil, entretanto, iniciavam a profissão de mascate, seguindo, quem sabe, os passos dos primos judeus que os antecederam na vinda ao país. Os árabes vendiam roupas, tecidos, bijuterias, panelas – e o que mais fosse encomendado pela freguesia –, em lombo de mulas ou carroças; autênticas lojas de armarinhos ambulantes. Por serem majoritariamente cristãos, os primeiros imigrantes logo se aclimataram e absorveram os hábitos e costumes do país adotivo, casaram com brasileiras e tiveram filhos; raros foram os que retornaram à pátria de origem.

Todos esses árabes que vieram no final do século 19 e no período de queda do império otomano, cristãos ou muçulmanos, vinham com um documento que se chamava laissez passer – “deixai passar”, em francês, a língua diplomática da época –com o timbre do governo turco otomano. Daí o apelido de turco. Na verdade,               esses primeiros imigrantes não sabiam dizer mais do que duas ou três frases em turco; geralmente com palavrões. Mas eram ‘turcos’ para as autoridades brasileiras e para o povo. Guardadas as devidas proporções, seria o mesmo que um nativo do Brasil, à época da Colônia, fosse para a Europa. Ele seria considerado, oficialmente, um português d’além mar. A diferença é que esse cidadão realmente falava o português; já o imigrante árabe não falava turco. Mas o apelido continuou até os dias de hoje mesmo entre as pessoas de boa escolaridade; pessoas que ainda pensam que todos esses caras que falam português enrolado e têm lojas de confecções são “turcos”.

A partir da queda do Império Otomano, em 1918, diminuiu a vinda dos cristãos e começou a chegada dos muçulmanos, seguindo o mesmo caminho dos antecessores. Mascateavam comboiando os ciclos das produções agrícolas e extrativas brasileiras. Quando houve o ciclo da borracha na Amazônia lá estavam os mascates, vendendo  mercadorias aos extratores. Quando o ciclo da borracha acabou, partiram em busca de outras fontes, mas muitos ficaram por lá, abriram estabelecimentos comerciais, casaram com brasileiras e formaram famílias. Seus descendentes estão espalhados pelo Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Rondônia e Amapá.

Quando surgiu o Ciclo do Café, os árabes inundaram as regiões produtoras. No início do século 20, São Paulo foi invadido por um tsunami sírio-libanês. Hoje, uma parte expressiva desses imigrantes se tornou nome de ruas e viadutos; seus descendentes são políticos de notoriedade nacional, intelectuais de alto brilho e estrelas na área da medicina. Mas, os ciclos continuaram a atrair a imigração de árabes sírios e libaneses. Onde havia uma produção agrícola ou extrativa significativa – cacau, algodão, soja, carnaúba, cana de açúcar etc. – lá estavam os mascates árabes. Fincavam raízes na região, desposavam as moçoilas interessadas e geravam filhos. Aos poucos, abrasileiravam-se, metiam-se na política local, torciam pelo time de futebol local e já não voltavam mais às suas aldeias a não ser para esporádicas visitas.

A partir de 1948, com a fundação de Israel e a consequente tragédia palestina, começaram a chegar, em ondas enormes, os árabes palestinos. Espalharam-se pelo Brasil – de São Paulo ao Rio Grande do Sul; de Minas a Brasília e Goiás; do Tocantins a Rondônia e Roraima; do Pará ao Acre; e do Maranhão a Ilhéus, na Bahia. Por onde se andava, em qualquer cidadezinha do interior, lá havia um mascate ou uma lojinha de “turco”. E se você perguntasse ao mascate, ou ao dono da loja, qual a sua origem, respondia com muito orgulho: “sou balestino!” Embora a Palestina, coitada, já não mais existisse como país.

Esses novos árabes aprenderam com os irmãos mais antigos, os sírio-libaneses, a arte de mascatear, comerciar e viver no Brasil. Muitos casaram com brasileiras e geraram filhos e netos, mas ainda continuam sonhando com a volta à Palestina. Por terem passado pela tragédia da perda da pátria, a destruição de casas e aldeias, a perda de plantações e pomares, eles mantêm como ideia obsessiva a reconquista da Palestina e o retorno a ela. Em consequência, a adaptação ao Brasil tem sido mais lenta e sofrida. Quando há uma celebração religiosa – o Eid al-Fitr, que celebra o fim do mês de jejum; ou o Ramadan, por exemplo –  se cumprimentam dizendo:

Sinat al-jeia fi Falastin, insha’Allah!  (O ano que vem na Palestina, se Deus quiser!).

Apesar disso, os árabes palestinos têm muito orgulho de ter a nacionalidade brasileira. Eles têm menos problemas na alfândega de Israel quando vão visitar  parentes que permaneceram na ‘Terra Ocupada’ – como a chamam, por causa do passaporte brasileiro. Nos campeonatos mundiais de futebol, se estivermos na Cisjordânia ou Gaza, nota-se que sete entre 10 casas de qualquer cidade, aldeia ou campo de refugiados, têm a bandeira brasileira no seu topo ou na janela. E quando o Brasil marca um gol, a gritaria e a festa é tanta que você tem a impressão de estar em uma cidade brasileira.

Quando os imigrantes árabes concluíram que não mais sairiam do Brasil, decidiram construir templos religiosos. Há várias igrejas cristãs maronitas e ortodoxas nas principais cidades brasileiras, especialmente nas regiões onde houve maior concentração dos primeiros imigrantes sírio-libaneses: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e outras.  A mais notável presença religiosa dos imigrantes árabes  tem sido a dos muçulmanos. Existem dezenas de mesquitas espalhadas Brasil afora. Além dos grandes centros – São Paulo, Rio, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília – há belas mesquitas no interior dos Estados. São Paulo é onde mais se encontram templos com a forma arquitetônica típica. Mas há cidades do interior brasileiro que têm belas mesquitas; talvez a mais bonita seja a de Foz do Iguaçu. Mas há mesquitas em cidades tão diversas quanto Paranaguá, no Paraná, ou Lages, em Santa Catarina.

Brincadeiras à parte, na minha avaliação, uma das mais importantes influências que os primeiros sírios e libaneses deixaram no nosso caldeirão cultural, é a culinária. A maioria dos brasileiros já experimentou um quibe frito, assado ou cru; uma iguaria regada com muito azeite de oliva e servida com o pão árabe. Muitos adoram o tabule – a salada feita com pepino japonês, tomate, alface americana, cebola picada, muita salsa e hortelã; temperada com sal, pimenta do reino, azeite e sumo de limão. Não tem quem não goste de uma kafta no espeto; um babaganush, a pasta de berinjela; de um hummus, a pasta de grão de bico com molho de gergelim; um charutinho de folha de parreira. Portanto, a culinária árabe – precisamente a sírio-libanesa – é variada e goza de uma grande popularidade no Brasil. Não há esquina na cidade de São Paulo que não tenha um boteco onde você pode comer um quibe frito acompanhado de um ‘martelinho’.

Alhamdulilleh! (Graças a Deus!)
* Gilberto Abrão

De origem árabe, Gilberto Abrão – autor do livro “Mohamed, o latoeiro”, lançado pela Primavera Editorial em 2009 – foi educado em um bairro simples de Curitiba, habitado por imigrantes poloneses, ucranianos, italianos, alemães e alguns sírio-libaneses. Aos 10 anos foi enviado pelo pai ao Líbano com a missão de aprender o idioma árabe, a cultura e a religião muçulmana. Aos 14 anos voltou ao Brasil e anos depois, em 1962, alistou-se como voluntário das Forças de Emergência das Nações Unidas para guarnecer as fileiras de soldados que atuavam na fronteira entre o Egito e Israel. Por ser fluente em árabe e inglês, permaneceu por 14 meses na Faixa de Gaza. Apaixonado por uma gaúcha, retornou ao Brasil em janeiro de 1965 para lecionar inglês em uma escola de idiomas. No ano seguinte, após obter o licenciamento para abrir uma franquia dessa escola de inglês, migrou para a cidade de Novo Hamburgo (RS). Na década de 1970 colaborou com o jornal Zero Hora, no qual publicava crônicas e contos na coluna Sol e Chuva.

 

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